Diário de Notícias | "Fake news: sites portugueses com mais de dois milhões de seguidores"

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"O negócio é rentável. A audiência dos sites de desinformação permite um retorno de milhares de euros pagos pela publicidade do Google. Só no Facebook, mais de dois milhões seguem estas páginas portuguesas.

A mentira começa no título. Um dos mais bem-sucedidos sites de desinformação em Portugal chama-se Bombeiros 24. Mas não tem nada que ver com bombeiros. Quem pesquisa este nome no Google encontra um anúncio a um serviço falso: "Bombeiros 24 horas". Se carregar no link, em vez de uma linha SOS, ou de um contacto, encontra apenas um site. E de desinformação.

No último mês, esta página conseguiu ter mais de 939 mil partilhas dos seus textos no Facebook. Nessa rede social, a página tem um nome ainda mais enganador: Bombeiros Portugueses. Tem quase 300 mil seguidores. Gente real, educada, preocupada. Mas o conteúdo não deixa muitas dúvidas sobre o que faz na realidade: desinformação. No dia 4 de novembro uma "notícia" do site citava o coordenador do Observatório da Emigração, Rui Pena Pires, dizendo que Portugal precisa de imigrantes. No Facebook, os administradores do site mostram o que pensam sobre o tema: "Afirmações um tanto ou quanto ridículas. Talvez se dessem valor ao trabalho dos portugueses houvesse mais gente disposta a trabalhar em certas áreas." (...)

Segundo dados do sistema de análise usado pela redação do DN para avaliar a sua audiência em redes sociais, na última semana, dois dos três artigos escritos em Portugal com mais partilhas no Facebook foram feitos por páginas de desinformação. (...)

Como é comum no mundo inteiro, este tipo de sites quer ainda criar um modelo de político. "Bolsonaro: O mundo está a mudar...as pessoas estão cansadas de falinhas mansas!" (Semanarioextra). "Putin: Quem não queria um destes?" (Tafeio.com.pt). Enquanto elogiam um político "especial", estes sites mostram que há razões para que os cidadãos portugueses sejam desconfiados. "Até hoje, nenhum chinês morreu em Portugal. Não há nenhum registo! Estranho...", escreve a página Diariopt. A mentira é tão óbvia que torna o êxito do tema difícil de entender: Teve 21,3 mil partilhas no Facebook, no último mês. (...)

Outro tema recorrente é o da xenofobia. O Lusopt escreve que a "Câmara de Lisboa despeja pessoas para construir mesquita" e, um pouco adiante, acrescenta uma outra história, com o mesmo pano de fundo, em que "nove freiras ficam grávidas num mosteiro que abriga refugiados". Esta é a narrativa que circula rapidamente pelas redes sociais. A forma organizada como se propaga, hoje, tem todas as condições para se tornar relevante no próximo ano (com eleições europeias e legislativas). Aí, tal como já aconteceu em vários países (EUA, Brasil, Itália, Suécia, para falar apenas nos exemplos mais recentes), o papel da desinformação pode ser decisivo.

Por princípio, não há muitos eleitores dispostos a aceitar opiniões ou factos falsos ditos por alguém que surja no meio da rua de cara tapada e voz distorcida. Mas há milhões de portugueses (pelo menos metade dos eleitores habituais) que aceitam ler e até reproduzir o que dizem estes sites anónimos."

Fonte: Diário de Notícias